Não escute a voz do mal

domingo, 11 de outubro de 2009 0 comentários


 Alguns dias atrás houve uma mudança na empresa onde uma amiga, trabalha. Uma nova chefe assumiu o comando e fez algumas mudanças. Só que estas mudanças acabaram incomodando algumas pessoas, criando um clima de fofocas e intrigas entre os funcionários.
Esta minha amiga me procurou para criticar a nova chefe, queria desabafar. Bem, depois dela descarregar tudo o que tinha pra dizer, perguntei sobre o que a chefe tinha feito contra ela. Então ela disse que não gostava do jeito da chefe, que seu jeito de falar era muito grosseiro, que tinha maltratado uma colega, que era arrogante...
O detalhe é que em nenhum momento ela disse que a chefe tinha feito algo contra ela. Toda raiva que sentia era apenas o resultado de ter dado ouvidos ao mal, deixando que influências de outras pessoas interferissem nos seus julgamentos.
E da mesma maneira que esta minha amiga pode ser que você também sinta raiva de alguém, que por pior que pareça, jamais te fez nada de ruim. Digo mais: talvez ela nem seja esta pessoa má que você imagina, já parou para pensar? Muitas vezes o que acontece é que potencializamos o lado ruim das pessoas enquanto nos mantemos cegos para suas qualidades. E por que isto acontece? Oras, porque de tanto escutar alguém sendo criticado, acabamos tomando uma antipatia infundada por ela.
Ou seja:
Usamos os julgamentos de terceiros para determinar quem é bom ou ruim.

Quer ver como tenho razão? Vamos dizer que você esteja no conforto de seu lar, sentadinha ao lado do seu benzão, quando ele resolve ligar a tv num destes programas policias, cheios de tragédias e violência. E o que vai acontecer depois de assistir um bando de traficantes, armados até os dentes, com metralhadoras, fuzis e granadas, mandando chumbo pra cima da polícia?
 Você irá trocar a calma e tranqüilidade que estava sentindo e será tomada pela raiva. E, conforme o apresentador for destilando ódio e idéias facistas, sua raiva vai aumentar até bater uma vontade de jogar uma bomba atômica em cima de todas as favelas do Rio de Janeiro!
É claro que a violência revolta qualquer um e deve ser combatida, mas a questão não é esta. A questão é que você não precisava disto, não precisava deste ódio, desta revolta, deste desejo de vingança que envenena sua alma, pois o mal trás o mal.
Pode ser que tenha uma determinada colega de trabalho que você não vá com a cara, do tipo que nunca te fez nada de mal, mas que seu santo não bate com o dela. Mas neste caso você pode dizer que seu sexto sentido está te dizendo que ela não presta, certo?
 Não, meu amor, isto não tem nada a ver com sexto sentido. Esta sua mania de rotular as pessoas tem mais a ver com preconceito! E o "pre" conceito nada mais é que fazer uma idéia antecipada de alguém, sem entender que ninguém é apenas o que queremos ver.
E nem me venha com este papo de que nunca errou ao julgar as pessoas porque é balela!
Na sua vida você aprendeu que gente folgada deve ser combatida e odiada, por isso determinou que é sua obrigação não gostar delas. Mas qual é a lógica neste comportamento? Mesmo que ela não valha um punhado de terra, pra quê perder tempo odiando-a? Que mal ela te fez, me responda? Oras deixe de lado estes seus conceitos de moral e pare de colecionar desafetos.
Mas não adianta apenas não escutar o mal, é preciso que nunca o espalhe. Se não gosta de determinada pessoa, deixe que os outros façam seus julgamentos. Afinal, o que não serve pra você, pode muito bem servir para outros. E se não servir, cabe a eles chegarem à conclusão.
 Certa vez uma garota muito linda, com seus 14 anos, estava andando pela rua, toda animadinha com sua roupinha nova. Logo atrás apareceram outras cinco meninas. Uma delas, a mais agressiva, sem nenhum motivo começou a ofendê-la. E não contente, resolveu envenenar as amigas contra ela, inventando um monte de mentiras. E diante de tal atitude, mesmo sem ter nada contra ela, mudaram de atitude e passaram a ofendê-la: "Sua galinha metidinha... Ta rebolando assim, por que?" Ela tentou entrar em uma rua para se livrar delas, mas nem teve tempo: a garota mais agressiva avançou sobre ela, dando-lhe uma bofetada na cara. Fiquei chocada ao ver aquela menina tão linda sendo agredidas por cinco garotas, suas sandálias coloridas espalhadas pelo chão, seu vestido novinho em folha sendo puxado pelas garotas, chorando, gritando por socorro. Corri em seu socorro e as garotas saíram gargalhando, caminhando com um gingado de marginais, fazendo novas ameaças: "E aí mina, se pintar na área vamos deitar o cabelo, ta ligada?...Vamos te zerar no contador e mamãe vai vestir preto!"
 O que sentiu ao ler este relato?
Raiva, revolta e tristeza, não é mesmo? Aposto que ficou chocado diante de tanta agressividade contra uma menina tão dócil. E conforme ia lendo a narrativa como imaginou as garotas? Elas seriam lourinhas, branquinhas e bem vestidas? Creio que não.
E a menina linda, como a imaginou? Bem colorida cheia de vida, certo? Mas as outras garotas deve ter imaginado envoltas em uma nuvem de escuridão e maldade. Com relação às roupas, talvez tenha imaginado a garota de 14 anos com vestidinhos mimosos e coloridos, que realçavam sua doçura.
 Em relação às outras garotas (as maloqueiras, lembra?) nem deve ter imaginado nada. Afinal, diante da nuvem de raiva que se formou em sua mente pouco importa como se vestiam, não é mesmo? Pode ser que agora você resolva imaginá-las vestida com roupas baratas e bem cafonas.
E o palavreado? Como é possível garotas falarem tantas gírias de marginais e se comportarem como animais raivosos?
É até impossível imaginá-las como garotas de família.
E o que você faria se isto tivesse acontecido com uma amiga, uma irmã mais nova ou até mesmo com uma filha? Como se comportaria ao saber que fizeram uma coisa tão ruim para quem ama?
 Está sentindo o ódio invadindo o peito?
Mas, agora vem à revelação: Tudo o que você leu não passa de mentira! Eu inventei esta estória cheia de estereótipos para você ver o quanto o mal tem um poder nefasto em sua vida.
Você poderia ter lamentado esta situação, achando que nada mais era que fruto da ignorância de algumas adolescentes, mas preferiu ver apenas o mal. Também poderia se lembrar que tudo foi obra da garota que envenenou as mentes das outras - portanto, que eram tão vítimas da maldade como a menina que apanhou. Mas como fazer isto sem levar em conta as emoções e medos que carrega, principalmente quando perguntei sobre o que faria se acontecesse com alguém que ama?
De acordo com seus conceitos do bem e do mal, você imaginou as agressoras, e não precisou de muito tempo para chegar a conclusão de que nenhuma deveria ser branca, muito menos loura e bem vestida. Fala a verdade, quando leu sobre as gírias, nem precisou perder muito tempo para colocar pra fora seus preconceitos: todas eram mulatinhas, pretinhas e vinham de lares insalubres, favelas...
Viu como uma simples mentirinha tem o poder de despertar em você um monte de venenos que tem guardado dentro de sua alma? Percebeu como este mal que sentiu e desejou ardentemente para as agressoras, não difere em nada daquele que as outras meninas sentiram, diante da amiga invejosa que iniciou a confusão?
 Tanto faz o mal que ela ou eu tenhamos incutido em sua mente, o mais importante é saber identificá-lo e manter fechadas as portas do seu coração.
Você não precisa odiar e nem precisa usar suas idéias de justiça, pois, na maioria das vezes, movida pelas emoções e influências externas, estará praticando a injustiça. Basta perceber que uma simples mentirinha teve o poder de despertar um monte de raivas e rancores.
Aprenda que é mais fácil errar ao desejar o bem por imposição moral, do que deixar que o mal se acabe por inércia.

Beijos no coração
Adriane

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